No ano de 1981, após concluir a 4ª série com a professora Socorro, meus pais decidiram que eu deveria estudar em Camocim.
Seria um sacrifício enorme para toda a família, pois mesmo se tratando de uma cidade próxima, até então sede do município, haveria os transtornos da mudança, moradia e adaptação uma cidade maior, sem falar que meu pai teria que permanecer em Barroquinha em razão dos serviços que executava como pedreiro.
Mesmo assim, passamos por cima de tudo e fomos residir em Camocim.
Moramos, portanto, durante seis meses. Depois, apenas eu permaneci para dar continuidade aos estudos.
Fiquei perambulando nas casas das tias, com uma saudade danada dos pais, dos irmãos, dos amigos e especialmente da minha Barroquinha.
Certo dia, descobrimos, que a empresa de ônibus, Ipú-Brasília, fornecia um ‘passe estudantil’ que evitava despesas com passagens entre a cidade e o distrito.
Meu pai, então falou com o senhor José Maria Lúcio, gerente da empresa, fazendo com que eu voltasse a morar em Barroquinha. Indo diariamente à Camocim, estudar no Instituto São José, onde também havíamos conseguido uma bolsa.
Fiquei nesse vai e vem, por cinco meses.
No final do ano, depois de aprovado na quinta série, meu padrinho José Veras, homem sério, cara fechada, pouco me dirigia à palavra, a não ser nos momentos em que eu o tomava a benção, casado com minha tia e madrinha Sarah, me chamou na frente de muitos e disse: “- Esse menino é um artista”. Fiquei muito assustado, mas ele continuou: “- Estuda aqui no Camocim, viaja todo dia pra Barroquinha, e agora passou de ano.
E continuou: “-Tem muita gente, que mora aqui, não acorda às quatro da manhã, não tem que viajar todo dia como ela faz, e não é aprovado”.
Embora, não me considerasse nenhum gênio realizando uma grande obra-de-arte, assim como, houvesse passado de ano, apenas para cumprir minha missão de aluno e retribuir o sacrifício dos meus pais, fiquei orgulhoso de mim mesmo.
Afinal, aquele homem, quem eu tanto temia, até mais que ao meu próprio pai, havia reconhecido minha luta e me feito um emocionante e inesperado elogio na frente de um ‘monte’ de gente.
Entendi que o ‘artista’, daquele dia, foi uma forma acanhada que meu padrinho encontrou de me exaltar. Só que do jeitão dele!
Afinal, aquele homem, quem eu tanto temia, até mais que ao meu próprio pai, havia reconhecido minha luta e me feito um emocionante e inesperado elogio na frente de um ‘monte’ de gente.
Entendi que o ‘artista’, daquele dia, foi uma forma acanhada que meu padrinho encontrou de me exaltar. Só que do jeitão dele!
Muito legal essa história! Tive uma situação semelhante em meus tempos de menina quando morávamos em um sítio e todos os dias viajava 4 Km de carrinho de animal ou trator, até o asfalto p/ pegar ônibus e viajar mais 25km p/ estudar. Nunca, eu e minha irmã, tiramos uma nota menor que 09 nos estudos... o que era motivo de grande orgulho p/ nossos pais.
ResponderExcluirParabéns pela mensagem, pois ela me fez retornar com muito carinho, aos velhos e bons tempos...