domingo, 11 de julho de 2010

Sebastião Adolfo

Homem destemido, nunca levou desaforo para casa. De paciência curta, a não ser com os filhos ou com aqueles a quem admirava e tinha fraternal amizade.

Não poderia ser de outra forma, é assim que vejo em minha lembrança, até hoje, meu avô paterno.

Nasceu na cidade de Ipú-CE, no dia do padroeiro de quem levou o nome, em 20 de janeiro de 1914, vindo residir ainda menino, na vila de Lagoa do Mato, em Barroquinha.

Sebastião Adolfo Farias, embora sem letra, como ele mesmo dizia, dotava de grande inteligência e perspicácia.

Para sobreviver acumulou durante sua vida as funções de pedreiro e pintor, além de cuidar da agricultura em seus próprios roçados. Quando jovem, trabalhou ainda, viajando e comercializando nos comboios entre a serra da Ibiapaba e Bitupitá.

Casou-se duas vezes. Porém, nunca deixou de ter o mesmo sogro e a mesma sogra. Pois, após o falecimento prematuro de Francisca Clemente de Sousa, minha avó, mãe de meu pai, desposou uma cunhada mais jovem.

Com sua segunda mulher, Inês de Sousa Farias, tiveram cinco filhos, sendo: José, Maria, Francisco, Francisca, esta chamada carinhosamente de ‘Nêga’ e o caçula Sebastião.

Além destes, ainda tomou para adoção as seguintes crianças: Otávio, França, Maria Vanda e Viviane, que assim como aos seus filhos biológicos, dedicou por toda a vida, o seu exemplar e cuidadoso amor paterno.

De poucas palavras, comigo, sempre mais ligado ao meu irmão Emanoel, nunca esqueceu, embora de forma encabulada, de mostrar o seu carinho, o seu orgulho, a sua afeição e sua preocupação de avô.

Sempre, quando eu o encontrava, depois da benção, me perguntava se estava tudo bem com os meus estudos ou com minha vida pessoal.

Da ultima vez que o vi, tive a honra, a satisfação, o tempo e o orgulho de lhe apresentar sua primeira bisneta, minha filha Naiana Iris, quando esta ainda tinha quatro anos de idade.

Já não mais ostentava a voz. Quase sempre rouca, estava ainda mais baixa. Mas, percebi que aquela menininha lhe causou visível emoção.

Meu avô faleceu dia 31 de Julho de 1996. Em um dia em que meu pai, ao me dar a notícia por telefone, emocionado, disse: - ‘Hoje estou enterrando meu pai. Agora, são vocês que deverão me enterrar’.

Uma mensagem que compreendi sendo para mim e meus irmãos, relacionada à ordem natural da vida. Onde, a dor de se enterrar o pai, consegue ser menor que a dor de sepultar um filho.

Isso me emocionou profundamente.

2 comentários:

  1. Lindo!!Sábias palavras ao descrever essa pessoa maravilhosa.Quando me recordo do Paizinho(assim o chamava),tenho sempre belas lembranças,uma delas (umas das mais importantes)lembro-me da última vez que o vi e da última frase que ele me disse:"Estude minha filha,e cuide da sua mãe".Guardo esse pedido em uma "caixinha dourada" dentro do meu coração para que não se perca o grau de importância. Ele realmente teve grande influência em minha vida.Nós, os netos mais velhos, tivemos a sorte e o privilégio de ter vivenciado momentos ao lado dele.

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    1. Minha querida priminha,
      Que bom você ter gostado da minha postagem e guardar, tambem, a sua 'caixinha dourada. Pois, sou testemunha do quanto você é comprometida com nossa familia, especialmente com sua mãe, minha tia querida...
      Você se inclui como 'netos mais velhos' como se ainda não fosse quase uma criança. Embora, com QI de gente grande...Apesar da aparência frágil, esconde um brio que somente as guerreiras possuem e sabem usar!
      Desde já, digo sem medo: mesmo pequenina, você é uma das maiores mulheres que já conhecí.
      Tenho orgulho, mesmo ausente nos últimos tempos, de pertencer à nossa tribo. A tribo dos Adolfos!

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