Lembro bem, que por duas oportunidades foi montado em Barroquinha, o circo do senhor Coutinho, que em bom barroquinês chamávamos, ‘seu Coitim’.
Na primeira vez em nossa cidade, ‘seu Coitim’, instalou-se no espaço que existia entre o nosso mercado e o muro do Colégio Carmelita Veras. Onde, mais ou menos hoje, funciona a feira de frutas e verduras.
Os espetáculos eram bem apresentados e existiam muitas atrações que prendiam ao público, predominantemente, infanto-juvenil.
O circo, nesta ocasião, era um palco rodeado por arquibancadas, que também chamávamos de poleiro, ‘tapando’ a visão de quem estava fora, apenas, com uma lona branca.
Apesar da simplicidade, as dançarinas, os palhaços, os trapezistas e acrobatas dentre outros artistas, nos divertiam todas as noites, durante o tempo em que o circo ficava montado.
O próprio senhor Coutinho, era uma atração a parte. Pois, além de proprietário, era apresentador e o mágico do espetáculo. Foi o primeiro ilusionista que presenciei trabalhando. Confesso que fiquei encantado com os truques daquele velho.
Quando as apresentações acabavam, meus irmãos, meus amigos e eu, voltávamos para casa ainda comentando sobre o que tínhamos visto.
- ‘Rapaz, aquele homem é pobre porque quer’! Dizíamos, nos referindo ao fato daquele mágico transformar papel de embrulho em dinheiro vivo.
Ficávamos ‘invocados’ com a atitude do ‘seu Coitim’ tirar metros e metros de fitas de sua boca. Não entendíamos como uma pessoa poderia bater na barriga com apenas uma bolinha de ping-pong e depois, literalmente, cuspir várias outras bolinhas.
Como aquilo poderia acontecer? Me perguntava!
Numa segunda oportunidade, a caravana circense retornou à Barroquinha, desta vez, com uma melhor roupagem, com tenda bem armada, um circo como realmente deve ser. Nesta oportunidade, se instalou num campinho atrás da Igreja.
As atrações continuavam as mesmas, porém, agora, o circo do senhor Coutinho possuía uma banda de musica, que só sabia tocar lambada, além de sua mais nova atração: ‘A mulher degolada viva’.
Recordo que certa noite fomos, eu e meus irmãos, assistir a apresentação do circo, curiosos para conhecer a degolação da mulher.
Estávamos no poleiro mais alto, bem na frente do palco. Sentava ao nosso lado o Jocélio, que tinha um jeito sempre muito alegre e peculiar de se comunicar, neto do senhor Raimundo Valdimiro, juntamente com sua irmã Socorrinha.
No momento em que foi, finalmente, anunciada a atração principal, a tal mulher degolada viva, ficamos todos bastante apreensivos sem saber o que exatamente veríamos.
Então, a cortina se abriu e estava lá. Uma mulher sentada em uma cadeira, sua cabeça estava ligeiramente inclinada para trás e a garganta assustadoramente transpassada por uma ‘peixeira’ enorme.
E, ainda, para aumentar o terror da cena, um dos palhaços ‘sacolejava’ o cabo da faca, fazendo com que a moça jorrasse ainda mais sangue pela boca.
A visão era realmente muito forte, todavia, o ‘vexame’ maior estava por vir. Diante do que acabara de ver, nosso amigo Jocélio, não resistiu a emoção e desmaiado ‘despencou’ da arquibancada, mais alta, até o chão.
Foi um alvoroço danado. Esquecemos da mulher degolada viva e, depressa, descemos para socorrer o pobre garoto, que se encontrava ‘esparramado’ na grama com sua irmã aos prantos.
Foi uma noite inesquecível!