segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O circo do ‘seu Coitim’.

Lembro bem, que por duas oportunidades foi montado em Barroquinha, o circo do senhor Coutinho, que em bom barroquinês chamávamos, ‘seu Coitim’.

Na primeira vez em nossa cidade, ‘seu Coitim’, instalou-se no espaço que existia entre o nosso mercado e o muro do Colégio Carmelita Veras. Onde, mais ou menos hoje, funciona a feira de frutas e verduras.

Os espetáculos eram bem apresentados e existiam muitas atrações que prendiam ao público, predominantemente, infanto-juvenil.

O circo, nesta ocasião, era um palco rodeado por arquibancadas, que também chamávamos de poleiro, ‘tapando’ a visão de quem estava fora, apenas, com uma lona branca.

Apesar da simplicidade, as dançarinas, os palhaços, os trapezistas e acrobatas dentre outros artistas, nos divertiam todas as noites, durante o tempo em que o circo ficava montado.

O próprio senhor Coutinho, era uma atração a parte. Pois, além de proprietário, era apresentador e o mágico do espetáculo. Foi o primeiro ilusionista que presenciei trabalhando. Confesso que fiquei encantado com os truques daquele velho.

Quando as apresentações acabavam, meus irmãos, meus amigos e eu, voltávamos para casa ainda comentando sobre o que tínhamos visto.

- ‘Rapaz, aquele homem é pobre porque quer’! Dizíamos, nos referindo ao fato daquele mágico transformar papel de embrulho em dinheiro vivo.

Ficávamos ‘invocados’ com a atitude do ‘seu Coitim’ tirar metros e metros de fitas de sua boca. Não entendíamos como uma pessoa poderia bater na barriga com apenas uma bolinha de ping-pong e depois, literalmente, cuspir várias outras bolinhas.

Como aquilo poderia acontecer? Me perguntava!

Numa segunda oportunidade, a caravana circense retornou à Barroquinha, desta vez, com uma melhor roupagem, com tenda bem armada, um circo como realmente deve ser. Nesta oportunidade, se instalou num campinho atrás da Igreja.

As atrações continuavam as mesmas, porém, agora, o circo do senhor Coutinho possuía uma banda de musica, que só sabia tocar lambada, além de sua mais nova atração: ‘A mulher degolada viva’.

Recordo que certa noite fomos, eu e meus irmãos, assistir a apresentação do circo, curiosos para conhecer a degolação da mulher.

Estávamos no poleiro mais alto, bem na frente do palco. Sentava ao nosso lado o Jocélio, que tinha um jeito sempre muito alegre e peculiar de se comunicar, neto do senhor Raimundo Valdimiro, juntamente com sua irmã Socorrinha.

No momento em que foi, finalmente, anunciada a atração principal, a tal mulher degolada viva, ficamos todos bastante apreensivos sem saber o que exatamente veríamos.

Então, a cortina se abriu e estava lá. Uma mulher sentada em uma cadeira, sua cabeça estava ligeiramente inclinada para trás e a garganta assustadoramente transpassada por uma ‘peixeira’ enorme.

E, ainda, para aumentar o terror da cena, um dos palhaços ‘sacolejava’ o cabo da faca, fazendo com que a moça jorrasse ainda mais sangue pela boca.

A visão era realmente muito forte, todavia, o ‘vexame’ maior estava por vir. Diante do que acabara de ver, nosso amigo Jocélio, não resistiu a emoção e desmaiado ‘despencou’ da arquibancada, mais alta, até o chão.

Foi um alvoroço danado. Esquecemos da mulher degolada viva e, depressa, descemos para socorrer o pobre garoto, que se encontrava ‘esparramado’ na grama com sua irmã aos prantos.

Foi uma noite inesquecível!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Bandeirinha

Na Barroquinha do meu tempo de criança, não tínhamos muita opção de divertimento, além dos jogos de futebol às tardinhas.

No entanto, outra opção, das poucas que nos restava durante todo o ano, era a de brincar de bandeirinha.

Falo durante todo o ano, por algumas diversões serem, por assim dizer, sazonais. Ou seja, o inverno proporcionava que brincássemos no jogo de bilas e de soltar pião. No verão, soltávamos papagaios, as pipas. Apenas o futebol e a bandeirinha, podíamos brincar o ano inteiro.

A bandeirinha, consistia em traçar uma listra no chão e fincar um bastão nas extremidades de cada terreno dividido, representando uma bandeira. A finalidade da brincadeira era fazer com que um time evitasse ao outro ultrapassar a listra para resgatar o bastão fincado ao fundo.

As equipes, não necessariamente existiam um numero exato de componentes, ficavam frente a frente e alguém sempre estava tentando entrar no lado adversário para resgatar a bandeirinha representada pelo bastão.

Quando um dos componentes do time adentrava na área adversária para pegar o bastão e era tocado por um dos membros da outra equipe, ficava preso neste lado, junto do bastão, aguardando que outro membro de seu time viesse resgatá-los.

Assim, o time que ficava com menor número de componentes estava propício a perder o jogo. Pois, o ataque do time adversário poderia ser em maior número de jogadores e os defensores não eram suficientes para evitar o resgate da bandeirinha.

Neste caso, a única opção dos defensores, era tocar o adversário que portava a bandeira. Este continuava preso ao terreno, e a brincadeira continuava até que houvesse um vencedor.

Optávamos por brincar em frente nossa casa, isso quando nossa mãe permitia. A pronúncia de palavras de baixo calão e pornografias que se dirigia, muitas vezes, a genitora dos ofendidos, não a agradava.

Todavia, dávamos sempre um jeito de participar da brincadeira.

Minha irmã Cristiana

Após cinco gestações, sendo todas de crianças do sexo masculino e de ter abortado espontaneamente as duas primeiras, minha mãe sonhava em ser mãe de uma filha mulher.

Tio Fernando Gouveia, irmão de minha mãe, e tia Aurí, sua esposa, haviam sido padrinhos de uma menina, por nome de Cristina, e acabaram por adotá-la como filha.

Filha do casal Manoel e Cícera, a menina Cristina era irmã gêmea de outra menina, esta por nome Cristiana, que apesar de um ano de vida ainda não andava e não pronunciava palavra alguma.

O referido casal, tinha muitos outros filhos, inclusive um bebê, recém-nascido. E, na época, a situação em que as crianças viviam não lhes proporcionavam grandes perspectivas de vida.

Então, incentivada pelo irmão e pela cunhada e da aceitação dos pais biológicos, minha mãe resolveu tomar a outra menina, Cristiana, para criar e assim realizar um sonho antigo de ter uma moça em nossa casa.

-‘Pra outra pessoa não. Mas, para senhor Vicente e dona Gouveinha, eu aceito que ela vá!’. Disse a mãe Cícera.

Em 1980, nossa irmãzinha chegou a nossa casa.

Miudinha, nem sentava direito, virou a patetice da família e logo, por eu seu o mais velho, passou a ser uma de minhas tarefas de casa, fazê-la dormir.

Observei que aquele, agora, nosso bebê, tinha como hábito se auto-acalentar. Pois, quando estava com sono, nem precisava eu balançar a redinha dela. Ela própria, sozinha, fazia um movimento de meio giro com as perninhas, proporcionando-lhe sono profundo.

Mesmo não sendo de sangue, Cristiana ocupou o espaço no seio da família como nossa verdadeira e única irmã. Herdando também como seus, nossos avós, nossas tias, nossos tios, primos e primas, parentes e aderentes.

Pois, acredito que esta foi uma missão que meus pais obtiveram para esta vida, e que assim como a mim, ao Emanoel e ao Paulo, também a ela, teriam que receber como seus verdadeiros filhos e filha.

Nossa família não estaria completa se nossa irmã Cristiana não existisse.

Orlando Félix de Oliveira

O senhor Orlando Félix era uma daquelas figuras que jamais esquecemos.

Barbeiro de profissão, também exercia função de carpinteiro e marceneiro além, nas horas vagas, de grande historiador.

Sua barbearia, principalmente aos domingos, recebia inúmeros clientes de vários lugares vizinhos, para cortar os cabelos e fazerem a barba.

Grande amigo de meu pai, o carequinha, não tinha um fiapo sequer de cabelo na cabeça, era uma pessoa simples, mas de um senso de humor invejável. Sua inteligência e sua memória astuta eram de causar inveja a muitos humoristas imitadores dos dias de hoje.

Imitava com grande perfeição quase todos os seus amigos e clientes. Sabia colocar como poucos, uma brincadeira ou mesmo uma piada, às vezes até de forma ingênua, em tudo o que fazia e onde quer que estivesse.

Certo domingo, na casa de tia Leontina e tio Jose Maria, no Paço Novo, após uma reunião vespertina do Círculo Bíblico, minha tia serviu um doce como cortesia aos presentes.

O silencio predominava na sala, quando senhor Orlando soltou: - ‘Oh doce doce, nunca vi um doce tão doce, como este doce.’

Foi o suficiente para quebrar o gelo do silêncio, causando em todos grande gargalhada.

Suas estórias, todas muito engraçadas, faziam com que todos dispensassem a atenção para ouvi-las.

Outro domingo, à noite após o Culto Dominical na igreja, senhor Orlando contou-nos que quando namorava sua esposa, dona Regina, precisava tomar um cavalo para ir visitar a moça no distrito de Amarelas.

Religiosamente, toda semana, ele fazia aquela rotina para encontrar sua noiva.

Foi então, que numa destas visitas, ele se deparou com algo que naquele dia, para ele, era de outro mundo.

Quando estava para chegar à residência dos pais de sua futura esposa, em frente à moradia, iluminado apenas pela luz da lua, de longe avistou o reflexo de um monstro enorme.

O referido monstro estava de pé, com dois braços abertos e usava chapéu e gravata.

Tremendo de medo, ele disse: ‘-pronto, hoje eu num vejo Regina. E agora?’ se perguntou sem saber o que fazer.

Lembrou o que os antigos diziam, que numa situação de medo como aquela, se o sujeito mordesse a faca, o medo passava.

-‘Quase engoli o meu punhal e o medo não passou.’ Ironizou ele próprio.

Depois de muito tempo parado com medo de se aproximar daquele monstro, percebeu certa movimentação na casa, com vergonha de que alguém já o tivesse visto, tomou coragem e seguiu em frente ao encontro da amada.

Foi quando para sua surpresa, percebeu que o monstro de nada existia.

Na realidade, o monstro era o que restava de uma velha árvore, a qual ele nunca havia dado conta e, naquele dia, fora podada deixando dois galhos laterais que, de longe, ele enxergou como braços abertos.

E o chapéu e a gravata? Lembro de alguém perguntando!

No mesmo dia, explicou senhor Orlando, houve a matança de um porco e a bacia onde ferveram a água para a pelagem do animal, suja de fumaça preta, foi emborcada na cabeça do monstro, ou melhor, da árvore, passando a idéia visual de usar um chapéu.

Já a gravata, foi resultado de terem ateado fogo na parte superior da árvore com a intenção de matar o miolo e evitar que a mesma continuasse floreando e, por coincidência, a queimação caprichosamente desceu na madeira, fazendo com quem avistasse a distancia, confundisse com uma gravata. Finalizou ele.

Numa oportunidade, lembro de ter julgado o velho barbeiro, como sem juízo. Pois carpinteiro que também era, construiu o próprio caixão funeral e o guardava em casa. Um dia, passando em frente de sua casa, estava o caixão exposto na sala e, pasmem, o senhor Orlando estava deitado dentro se fingindo de morto. E gritava: - ‘Regina, Regina, olha aqui, vem me ver!’

Tomei um susto imenso. Afinal, como todo menino da minha idade, morria de medo dos mortos.

Já doente e fragilizado, continuava a trabalhar na barbearia. Recordo, quando eu ainda menino, no momento em que cortava o meu cabelo, pela última vez, rogou a Deus pedindo saúde para que um dia pudesse também, fazer a minha barba.

Jurei a mim mesmo, no dia que eu tivesse pêlos no queixo, lhe proporcionaria a realização deste desejo. Porém, Deus, o chamou antes que realizasse o seu pedido.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

TV na Praça

Quando criança, assistir televisão na nossa Barroquinha era uma verdadeira aventura.

Pois, como se não bastasse o número reduzido destes eletrodomésticos no lugar, tínhamos que torcer para que as imagens aparecessem na tela, mesmo, com um ‘chuviscado’ que parecia as entranhas de uma grande colméia de abelhas.

No quadro da Matriz, nas décadas de setenta e oitenta, poucas residências possuíam, em barroquinês, ‘telerrisão’ e, somente, em preto e branco.

Para assistirmos a programação, ficávamos nas calçadas destas casas, escorados, acotovelando-nos nas janelas ‘espiando’ as TV’s nas salas, procurando enxergar através das rótulas. Isso, quando o proprietário da casa permitia e não fechava os basculantes em nossa cara.

Outros, mais educados, nos convidavam a entrar e permitiam que sentássemos ao chão. Desde que, ficássemos sem dizer um ‘pio’.

Por volta do ano de setenta e quatro, foi construída na praça, ao lado da Igreja, uma cabine para que nesta fosse abrigada e instalada a primeira TV pública de nossa cidade.

Foi quando, pela primeira vez, vi uma televisão, ou melhor, fiquei sabendo, que existia um ‘negócio daqueles’.

O referido receptor de imagens e sons, ficava protegida numa caixa de tijolos, comuns às TV’s de praças, suspensa por paredes, também de tijolos, a uns dois metros e meio de altura.

Estava posicionada de frente para umas carreiras de bancos e com as portinhas de frente para o oeste. O que dificultava acompanhar a programação durante o dia, em razão do posicionamento do sol.

Como falei antes, ao contrario das imagens que recebemos hoje pela tecnologia que dispomos, o sinal era bastante ruim. Quando melhorava, pouca coisa, era pela utilização de um aparelho que chamavam de ‘amplimatic’.

Todavia, na minha época de menino, era o que tínhamos de melhor, para acompanhar os telejornais, as novelas e os jogos de futebol.

Como as coisas mudaram, não é verdade?

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Radio Pinto Martins

Sempre me senti pressionado, por mim mesmo, na intenção de descobrir desde cedo o que eu seria na vida? De como poderia trabalhar ou o que poderia fazer para sustentar uma família? Com quem me casaria? E outras mais. Eram perguntas que eu me fazia, mesmo quando ainda muito jovem.

Muito precoce em quase tudo, vivia intensamente todos os meus sentimentos, me preocupava sem necessidades, com assuntos que normalmente não seriam da ‘conta’ de um adolescente.

Então, já morando em Camocim, ficava ´cutucando’ ao meu pai para que, por intermédio de suas amizades, conseguisse um emprego para mim.

Aos quinze anos, portanto, por intermédio de um contato do meu genitor com o senhor Edilson Véras Coelho, conseguimos um estágio de locutor na, 14,50 AM, Rádio Pinto Martins de Camocim.

Coincidência, ou não, era a realização de um sonho. Pois, mesmo, sem saber o que iria encontrar de trabalho pela frente, era com o rádio que eu me identificava e passava horas afio, ensaiando em casa.

Com um bilhete em mãos do presidente, senhor Edilson, avalizando meu primeiro emprego, me apresentei à direção da emissora, no dia seguinte. Muito cedo.

No primeiro dia, me deram um ‘chá de cadeira’ de uma manhã inteira. Lá pelas onze e meia, me mandaram voltar no dia seguinte.

A vontade de trabalhar era tanta e, maior ainda, a de me tornar locutor, que às sete e meia da manhã, eu estava lá novamente.

Desta vez, o diretor da rádio, grande comunicador, Cardoso Filho, conversou comigo, fizemos um teste, ele gostou e então fiquei ao seu lado, num programa da manhã que ele mesmo apresentava.

Meu estágio consistia em observar o modo como ele se comunicava, o trato com os ouvintes, aprender os bordões de freqüência da rádio, além de uma série de informações e técnicas, que só quem é do rádio entende.

Já no segundo dia, senhor Cardoso chamou-me e disse: - ‘Hoje você começa definitivamente, já falando no ar, ao meu lado’.

As pernas ‘bambearam’, as mãos começaram a suar, fiquei muito nervoso, mas, entrei no estúdio ao lado dele.

Depois de dois dias, eu já estava completamente à vontade. O velho comunicador me ajudava e eu não ‘titubeava’, lia as notícias, informava as horas, fazia apresentação musical, atendia aos ouvintes no telefone, etc.

Depois de uma semana de estágio, cheguei a fazer a apresentação do programa da manhã, no horário do próprio Cardoso Filho, sozinho, enquanto este estava numa viajem.

Então, quando o mesmo voltou, lembro que ele saiu perguntando aos demais colegas, o que tinham achado de mim e da minha desenvoltura como apresentador.

Bem, a maioria, para minha felicidade, disse que eu já estava pronto. Outros, acho que por ciúmes, ficaram calados. Mas o certo, era que eu ia fazer o meu primeiro programa, sendo o locutor principal do Big Show, como sempre havia sonhado, já no sábado à noite.

Eu não cabia em mim, de ansiedade e emoção.

Foi então que fui convidado para uma reunião, já como locutor, na sexta feira, meio dia, após o programa da manhã, e o pior aconteceu.

Cardoso Filho, finalizando seu programa, no momento em que informou as horas para os ouvintes, fez o seguinte comentário, em tom de brincadeira.

- “O Raimundo comprou um ‘Oriente’, o Sandro ficou com o ‘Mido’ e o Gouveia deu o ‘Roscópi”.

A menção, de duplo sentido, era à palavra ‘ROSCOFE’, no sentido amplo da palavra, porém de uma indelicadeza e pura falta de criatividade. Comuns a alguns comunicadores, que se sentem dono das palavras e acham que podem dizer idiotices quando querem.

Sabendo que minha família estava ouvindo aquilo em nossa casa, meu coração se apertou. E, não deu outra, antes que a reunião começasse, meu pai entrou na sala, me chamou na frente de todos e proibiu que voltasse àquele lugar.

E assim, foi ‘por água abaixo’, o meu sonho ser me tornar locutor de rádio.

Trajetória Escolar

Fui alfabetizado por minha mãe, e depois fui direto para o primeiro ano.

Cursei a primeira série do primeiro grau com a professora Maria do Amparo no prédio da ‘prefeitura’, onde hoje se localiza a clínica.

Depois, na segunda série, fui estudar numa escolinha que a Ancelet Rocha mantinha em sua própria casa.

A terceira série eu consegui concluir na Escola Carmelita Veras com a professora Edileusa Carvalho.

Em 1980, estudava na escolinha particular da professora Socorro Lisbão fazendo a 4ª série.

A escolhinha, situava-se na rua da Lacerda, aglomeravam-se um número razoável de crianças e adolescentes que, mesmo sendo de série diferentes, ficavam todas na única sala que existia.

Dona Socorro, era de pulso firme e tinha que ser, pois seus alunos, como muitos dizem, ‘não eram flor que se cheire’.

Vez por outra, ela se apropriava de uma ‘palmatória’ para punir aos mais bagunceiros. E, não eram poucos.

Como eu havia sido aluno de minha própria mãe e, lá em casa o ‘couro comia’, era um dos poucos comportados e estudiosos. Muito mais, por medo de casa, que da minha querida e para mim, amável professora.

Por decisão de meus pais, no ano seguinte, fui estudar no Instituto São José, em Camocim. Por não, possuir grade curricular, exceto pelo ano que estudei no Carmelita Véras, tive que fazer todas as provas dos anos anteriores, em uma única manhã.

Além disso, a professora Socorro escreveu uma carta emocionante à direção do colégio das irmãs, na qual me cobria de elogios e me referenciava como aluno exemplar.

Vale ressaltar, que somente consegui realizar tais provas, criando a partir daí um currículo escolar, graças à esta carta de minha professora, a qual sensibilizou Irmã Henrica, então diretora do ISJ.

Sempre que vejo dona Socorro, esposa do senhor Mundim, procuro cumprimentá-la com peculiar respeito e admiração, reconhecendo que o mesmo lhe é recíproco.

Para mim, será sempre exemplo uma guerreira disfarçada de mulher. Foi uma pessoa que ficou marcada na minha vida, pela sua garra de lidar com seus próprios filhos e ao mesmo tempo com seus alunos, filhos dos outros.