segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Orlando Félix de Oliveira

O senhor Orlando Félix era uma daquelas figuras que jamais esquecemos.

Barbeiro de profissão, também exercia função de carpinteiro e marceneiro além, nas horas vagas, de grande historiador.

Sua barbearia, principalmente aos domingos, recebia inúmeros clientes de vários lugares vizinhos, para cortar os cabelos e fazerem a barba.

Grande amigo de meu pai, o carequinha, não tinha um fiapo sequer de cabelo na cabeça, era uma pessoa simples, mas de um senso de humor invejável. Sua inteligência e sua memória astuta eram de causar inveja a muitos humoristas imitadores dos dias de hoje.

Imitava com grande perfeição quase todos os seus amigos e clientes. Sabia colocar como poucos, uma brincadeira ou mesmo uma piada, às vezes até de forma ingênua, em tudo o que fazia e onde quer que estivesse.

Certo domingo, na casa de tia Leontina e tio Jose Maria, no Paço Novo, após uma reunião vespertina do Círculo Bíblico, minha tia serviu um doce como cortesia aos presentes.

O silencio predominava na sala, quando senhor Orlando soltou: - ‘Oh doce doce, nunca vi um doce tão doce, como este doce.’

Foi o suficiente para quebrar o gelo do silêncio, causando em todos grande gargalhada.

Suas estórias, todas muito engraçadas, faziam com que todos dispensassem a atenção para ouvi-las.

Outro domingo, à noite após o Culto Dominical na igreja, senhor Orlando contou-nos que quando namorava sua esposa, dona Regina, precisava tomar um cavalo para ir visitar a moça no distrito de Amarelas.

Religiosamente, toda semana, ele fazia aquela rotina para encontrar sua noiva.

Foi então, que numa destas visitas, ele se deparou com algo que naquele dia, para ele, era de outro mundo.

Quando estava para chegar à residência dos pais de sua futura esposa, em frente à moradia, iluminado apenas pela luz da lua, de longe avistou o reflexo de um monstro enorme.

O referido monstro estava de pé, com dois braços abertos e usava chapéu e gravata.

Tremendo de medo, ele disse: ‘-pronto, hoje eu num vejo Regina. E agora?’ se perguntou sem saber o que fazer.

Lembrou o que os antigos diziam, que numa situação de medo como aquela, se o sujeito mordesse a faca, o medo passava.

-‘Quase engoli o meu punhal e o medo não passou.’ Ironizou ele próprio.

Depois de muito tempo parado com medo de se aproximar daquele monstro, percebeu certa movimentação na casa, com vergonha de que alguém já o tivesse visto, tomou coragem e seguiu em frente ao encontro da amada.

Foi quando para sua surpresa, percebeu que o monstro de nada existia.

Na realidade, o monstro era o que restava de uma velha árvore, a qual ele nunca havia dado conta e, naquele dia, fora podada deixando dois galhos laterais que, de longe, ele enxergou como braços abertos.

E o chapéu e a gravata? Lembro de alguém perguntando!

No mesmo dia, explicou senhor Orlando, houve a matança de um porco e a bacia onde ferveram a água para a pelagem do animal, suja de fumaça preta, foi emborcada na cabeça do monstro, ou melhor, da árvore, passando a idéia visual de usar um chapéu.

Já a gravata, foi resultado de terem ateado fogo na parte superior da árvore com a intenção de matar o miolo e evitar que a mesma continuasse floreando e, por coincidência, a queimação caprichosamente desceu na madeira, fazendo com quem avistasse a distancia, confundisse com uma gravata. Finalizou ele.

Numa oportunidade, lembro de ter julgado o velho barbeiro, como sem juízo. Pois carpinteiro que também era, construiu o próprio caixão funeral e o guardava em casa. Um dia, passando em frente de sua casa, estava o caixão exposto na sala e, pasmem, o senhor Orlando estava deitado dentro se fingindo de morto. E gritava: - ‘Regina, Regina, olha aqui, vem me ver!’

Tomei um susto imenso. Afinal, como todo menino da minha idade, morria de medo dos mortos.

Já doente e fragilizado, continuava a trabalhar na barbearia. Recordo, quando eu ainda menino, no momento em que cortava o meu cabelo, pela última vez, rogou a Deus pedindo saúde para que um dia pudesse também, fazer a minha barba.

Jurei a mim mesmo, no dia que eu tivesse pêlos no queixo, lhe proporcionaria a realização deste desejo. Porém, Deus, o chamou antes que realizasse o seu pedido.

Um comentário:

  1. É meu amigo gouveia, você sabe despertar a saudade e nostalgia em um conterrâneo, tambem como você, tenho muitas historias do Tio Orlando, O Carequinha além de tudo isto que você falou, ainda era um excelente rezador. Certa vez uma vaquinha lá de casa que dava leite para me criar e em contrapartida criar sua caçula Regina, da mesma idade que eu, ficou doente, parou de nos fornecer o branco e precioso líquido. Segundo os entendidos era quebranto, Papai Sr. Manoel André, sem saber o que fazer chamou uma cigana que estava acampada no Patio de Barroquinha. A reza da Cigana não serviu de nada. No outro dia, as cinco horas da manhã, tio Orlando veio pegar o leite e quando chegou, meu Pai lhe informou que o leite da vaquinha havia secado e o bezerro estava quase morto. Tio Orlando foi ver o que estava acontecendo, ao constatar o chamado olho gordo, rezou nos dois pela manhã e a tarde e no outro dia a vaquinha voltou a garantir o leite nosso de cada dia. Um abraço amigo... Há, visite meus blogs, endereço: poetajrocha.blogspot.com e poetajrocha2009.blogspot.com se possivel deixe seu comentário, as poesias ali postadas são todas de minha autoria.

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